Eventos inesquecíveis
2016
A chama olímpica, roubada de Zeus por Prometeu, foi entregue aos cariocas em uma cerimônia espetacular, no dia 5 de agosto de 2016. Não poderia haver palco melhor para a celebração do maior evento do esporte, em sua primeira edição na América do Sul, do que o Maracanã. Com dezenas de milhares presentes, entre público, voluntários, atletas, chefes de estado e artistas, o evento foi uma grande celebração da cultura nacional.
Mas a grande palavra da Abertura, e dos dias que se seguiram nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, foi "emoção". Se você estava no Maracanã, ou na cidade, durante o evento, certamente percebeu isso. Assim como já havia ocorrido tanto no Pan 2007 quanto na Copa do Mundo FIFA de 2014, os cariocas deram um show de simpatia, tudo funcionou corretamente e vivemos um clima de integração incrível durante a Rio 2016.
Cerimônia de Abertura
Cerca de 78 mil espectadores presenciaram e aplaudiram o impressionante trabalho comandado pelos diretores criativos Fernando Meirelles, Daniela Thomas e Andrucha Waddington. A coreógrafa Deborah Colker treinou 6 mil voluntários, que dançaram na apresentação. A festa contou um pouco da história do Brasil e do jeitinho carioca, começando na floresta, passando por índios, escravos e chegando ao funk e ao samba. Isso tudo antes do animado desfile das delegações.
Dentre os destaques, Gisele Bündchen caminhando de um lado a outro do estádio ao som de "Garota de Ipanema", réplica do 14-bis de Santos Dummont, shows com Anitta, Caetano Veloso e Gilberto Gil, além do enorme palco, com coreografias incríveis dos dançarinos. Além de toda a brasilidade, houve ainda o repertório tradicional, com a entrada da bandeira olímpica, a declaração de abertura dos jogos e, claro, a chegada tocha com a pira olímpica ao estádio.
Para encerrar o revezamento da tocha olímpica, no final da Cerimônia de Abertura, Gustavo Kuerten a trouxe ao estádio, passou a chama olímpica para Hortência, que a repassou para Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze da maratona nos Jogos Olímpicos 004 e único brasileiro consagrado com a Medalha Pierre de Coubertin. Coube a ele acender a pira, que levou a chama para uma escultura do artista plástico Anthony Howe, que ficava "levitando" no estádio.
Um momento único para fechar uma noite inesquecível.
Cerimônia de Encerramento
Dá para apostar que nenhum dos 78 mil presentes ao Maracanã no dia 21 de agosto ficou sem chorar durante a Cerimônia de Encerramento da Rio 2016. Especialmente no momento mais marcante, quando a pira olímpica foi apagada com um efeito de chuva, ao som de "Pelo Tempo Que Durar", de Adriana Calcanhoto e Marisa Monte, cantada de forma brilhante e muito emocionante por Mariene de Castro.
Quando a chuva, enfim, apagou o fogo olímpico, mais do que aplausos e lágrimas, ouviu-se o grito de "Não!" vindo das arquibancadas. Um pedido de todos para que esses dias mágicos não acabassem nunca. Ao mesmo tempo, começava a última queima de fogos da Rio 2016. Coroando uma Olimpíada inesquecível e também uma celebração que marcou uma "passagem de bastão" do Rio para Tóquio.
Afinal, a cidade japonesa sediaria os Jogos Olímpicos de 2020. Por isso, a cerimônia teve não só toques da cultura do nosso país, como também da Terra do Sol Nascente. Destaque para o momento em que o então primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, surgiu no centro do gramado do Maracanã saindo de um cano verde e com um boné do personagem de videogame Mario, um dos maiores ícones da cultura moderna japonesa e famoso em todo o mundo.
Estava encerrada a melhor Olimpíada de todos os tempos. Quem concorda?
2009
Não foram só grandes nomes da música internacional que se apresentaram no Maracanã. O estádio também abriu as suas portas para artistas brasileiros de renome. Como, por exemplo, o Rei Roberto Carlos. Em 2009, ele completou 50 anos de carreira, e nada melhor do que comemorar com uma grande festa no Maracanã, não é mesmo? Com 68 mil "convidados", as "Bodas de Ouro" da vida profissional do cantor foram celebradas em grande estilo. Foi uma brasa, mora?
Nem o temporal que caiu durante o show foi capaz de atrapalhar. A emoção do Rei era visível. Dizem que Frank Sinatra exclamou "Oh My God" quando viu a multidão no estádio, antes de começar a cantar. Mas se é verdade ou lenda, ninguém sabe. Roberto não. Ele falou em alto e bom som o quanto aquele momento estava sendo especial.
"É a maior emoção que já senti em minha vida estar aqui no Maracanã cantando para vocês. Quando estava lá em Cachoeiro, jamais imaginei que podia viver um momento como esse. Eu amo vocês, tudo isso parece um sonho", disse o Rei, que subiu ao palco a bordo de um calhambeque ao som de "Emoções".
Em sequência, vieram os hits que embalaram a carreira de Roberto Carlos desde a Jovem Guarda, como "É preciso saber viver" e "Eu te proponho". Destaque para o segmento do show em que ele convidou Erasmo Carlos para subir ao palco e, emocionados, eles fizeram o dueto "Amigo". Wanderléa foi outra convidada de honra.
E, como já é tradição nas apresentações do cantor, "Jesus Cristo" foi a faixa que encerrou a apresentação, enquanto ele beijava suas rosas e jogava para os fãs. Uma noite de muitas emoções, bicho.
2007
O slogan dos Jogos Pan-Americanos Rio 2017 era "Viva essa energia". Perfeito para o que cada carioca viveu entre os dias 12 e 29 de julho daquele ano. Mesmo cercado por desconfianças, o Rio de Janeiro realizou um evento perfeito, e mostrou ao mundo que a Cidade Maravilhosa, e o Brasil, teriam condições de receber competições esportivas de grande porte. Pode-se dizer que foi um "evento teste" para as Olimpíadas, mesmo nove anos antes delas acontecerem.
A Cerimônia de Abertura dos Jogos foi na noite de 13 de julho. Produzido pelo americano Scott Givens, experiente em eventos desse tipo, o espetáculo foi coordenado pela carnavalesca Rosa Magalhães e o designer Luiz Stein. O foco da celebração foi a cultura brasileira e as belezas do Rio. A apresentação foi dividida em três segmentos, todos com o mote da Energia: do Sol, das Águas e do Homem.
Além disso, foi realizado também o tradicional protocolo com desfile de apresentação das delegações, discursos das autoridades, hasteamento das bandeiras (nacional, da ODEPA e a olímpica), execução de hinos e juramentos dos atletas e dos árbitros. Tudo diante de 75 mil pessoas que lotaram o Maracanã para presenciar o acendimento da pira dos Jogos Pan-Americanos, que ficou localizada no estádio durante toda a competição.
É importante ressaltar que os Jogos do Rio de Janeiro fugiram da curva do Pan, que normalmente é uma competição que não tem tanta procura de torcedores ou da imprensa. Esta edição foi a mais cara na história do evento até então, com um orçamento de 2 bilhões de dólares, e foi um sucesso de público e crítica. No total, ocorreram 332 eventos de 37 esportes, sendo 178 eventos masculinos, 142 femininos e doze mistos. O Brasil ficou em terceiro lugar no Quadro de Medalhas, ganhando 52 de Ouro e 157 no total.
O Maraca foi palco de partidas de futebol, masculino e feminino, do Pan 2007. Inclusive a decisão do Ouro que Marta e companhia conquistaram para o Brasil diante de um grande público nas arquibancadas. E, no dia 29 de julho foi feita a Cerimônia de Encerramento do evento, para a tristeza de todos os cariocas. Mal sabíamos que ainda vinha muita coisa bacana por aí nos anos seguintes, não é mesmo?
1991
Saem as chuteiras, entram as guitarras. No lugar do canto das torcidas, coros embalando os hits do ano. No campo, muito mais do que dois times de 11 jogadores, e sim milhares de pessoas. Em janeiro de 1991, o Maracanã sediou o maior festival de música da América Latina, o Rock in Rio, em sua segunda edição. Com um lineup recheado de ídolos nacionais e internacionais, como Carlos Santana, Jimmy Cliff, Guns N' Roses, Titãs, Prince, George Michael e Capital Inicial, foram nove dias inesquecíveis em que o Templo do Futebol recebeu um verdadeiro Culto à Música.
O primeiro Rock in Rio, em 1985, foi realizado na Cidade do Rock, espaço construído em Jacarepaguá. O festival durou 10 dias com total de 1 milhão e 380 mil espectadores. Segundo o idealizador do evento, Roberto Medina, foram gastos cerca de 11 milhões de dólares na organização. O sucesso foi tanto que na segunda edição que o palco escolhido foi o maior e mais carismático estádio do Brasil. O gramado foi adaptado para receber o palco e os espectadores (700 mil pessoas, em 9 dias de evento), que também poderiam ficar nas arquibancadas do estádio.
O Rock in Rio no Maracanã tinha dois palcos móveis, com uma área de 5.600 metros quadrados e mais 60 lojas e quatro shoppings. Mas o que chamou mesmo a atenção foram os shows. Houve reais momentos históricos no Maracanã durante esse evento. Como o Guns N' Roses estreando integrantes, Dizzy Reed (tecladista) e Matt Sorum (baterista), e lançando, no palco do Maraca, as músicas inéditas "Civil War", do álbum "Use Your Illusion II", e "Double Talkin Jive", que está em "Use Your Illusion I".
E o cantor pop Prince, que queria um camarim iluminado pela cor púrpura (em referência ao seu hit "Purple Rain"), e fez um showzaço? E o A-ha, que entrou para o Guinness Book com o maior público pagante de todos os tempos, de 198.000 pessoas no Maracanã? E, apesar de muita gente hoje em dia dizer que "antigamente o Rock in Rio era só rock", o evento foi um verdadeiro show de pluralidade musical. Tinha Megadeth e Sepultura, mas também New Kids On The Block, Run DMC, Roupa Nova, Moraes Moreira e Pepeu Gomes, Alçeu Valença...
Foi um evento com a cara do Maraca, mesmo sem envolver o esporte por um segundo. Por reunir todas as tribos. Por ter um clima incrível. Por criar histórias inesquecíveis. Por fazer desconhecidos se tornarem amigos e cantarem com uma só voz. Quem viveu, não esquece. E quem não estava lá, certamente, gostaria de ter vivido essa emoção. Especialmente porque foi o único Rock in Rio no Maracanã. O evento só voltou em 2001, na Cidade do Rock, e mesmo de 2011 para cá, quando se tornou um festival que acontece a cada dois anos, nunca retornou ao estádio. Ou seja, 1991 foi único. E histórico.
- Lineup:
- 18/01: Prince, Joe Cocker, Colin Hay, Jimmy Cliff.
- 19/01: INXS, Carlos Santana, Billy Idol, Engenheiros do Hawaii, Supla, Vid & Sangue Azul.
- 20/01: Guns N' Roses, Billy Idol, Faith No More, Titãs, Hanoi Hanoi.
- 22/01: New Kids On The Block, Run DMC, Roupa Nova, Inimigos do Rei.
- 23/01: Guns N' Roses, Judas Priest, Queensryche, Megadeth, Lobão, Sepultura.
- 24/01: Prince, Carlos Santana, Laura Finocchiaro, Alceu Valença, Serguei.
- 25/01: George Michael, Deee-Lite, Elba Ramalho, Ed Motta.
- 26/01: Happy Mondays, Paulo Ricardo, A-Ha, Debbie Gibson, Information Society, Capital Inicial, Nenhum de Nós.
- 27/01: George Michael, Lisa Stansfield, Deee-Lite, Moraes Moreira e Pepeu Gomes, Leo Jaime.
1983
O Maracanã também já foi palco de uma quadra de vôlei. Em 1983, foi realizado O Grande Desafio de Vôlei, entre Brasil e União Soviética, reunindo mais de 95 mil pagantes. Um simples amistoso, mas que é considerado pela FIVB um dos mais significativos jogos do esporte na história. Afinal, a magnitude do estádio e a presença maciça de público deram uma amostra do quanto ele poderia ser grande no país e no mundo.
A quadra foi montada no centro do gramado do Maracanã por cerca de 200 profissionais, em pouco mais de 24 horas. Ela foi feita de material sintético cor de laranja sobre um tablado de 1.500 metros quadrados. O gramado não poderia ser esburacado, então foram criados encaixes para montar toda essa estrutura. As marcações foram feitas com fita adesiva branca. Um grande trabalho, mas que valeu a pena.
Aquela era a quarta e última partida de uma série de amistosos entre as duas seleções. O Brasil, medalha de prata no Mundial de 82, e a URSS, campeã olímpica e mundial. Era uma ação de ativação da CBV para valorizar a equipe nacional e tentar promover o esporte no país. Depois de jogos em São Paulo, Recife e Vitória, veio o grand finale com esse duelo histórico no Maraca.
Especialmente porque o Brasil venceu a partida. A chamada "Geração de Prata", com nomes como Bernardinho, Renan Dal Zotto, Bernard e Montanaro, comandada pelo saudoso Bebeto de Freitas, bateu os soviéticos por 3 sets a 1, em duelo bem equilibrado: 14/16, 16/14, 15/7 e 15/10. Mas também pelo fato de o confronto ter sido disputado em uma noite de chuva. Isso mesmo.
A partida seria no dia 17 de julho, porém chovia muito e foi adiada para o dia 26. Só que nessa data o tempo não era dos melhores também. Ainda no primeiro set, a partida teve que ser interrompida. Mas Viacheslaz Platanov, técnico da URSS, teve a ideia de pegar os tapetes que iam do vestiário até a quadra para forrar a quadra e continuar. Foi dando certo e a história foi escrita.
1980
O dia de São João Paulo II é 22 de outubro, mas os cariocas que vivenciaram sua presença no Rio de Janeiro nunca esquecerão também o dia 2 de julho de 1980. À época, Karol Józef Wojtyła era o Papa João Paulo II, que veio para nossa cidade a fim de visitar o Cristo Redentor e participar da ordenação de vários presbíteros no Maracanã.
Foi a primeira vez que a autoridade máxima da Igreja Católica veio ao Brasil, então a expectativa era enorme por parte dos fieis. Até porque Sua Santidade fez uma longa viagem pelo país. Foram 13 cidades visitadas, com grande carinho dos brasileiros por ele. Houve até declaração de feriados nacionais durante o período.
No Maracanã, João Paulo II celebrou a missa e, em sua homilia, falou aos presbíteros de todo o Brasil que estavam prestes a serem ordenados ali. E, mais do que conselhos aos futuros padres, abordou também temáticas sociais.
"O meu ardente desejo é ajudar-vos a compreender a grandeza e o significado do passo que estais para dar. Esta hora solene terá sem dúvida um reflexo sobre todas as que virão depois no decurso da vossa existência. Devereis voltar muitas vezes à recordação desta hora para tomar impulso para continuar, com renovado ardor e generosidade, o serviço que hoje fostes chamados a exercer na Igreja", disse o Papa a eles.
Em 1997, João Paulo II voltaria ao Rio de Janeiro, e pisaria novamente no Maracanã. Dessa vez, para o II Encontro Mundial com as Famílias. Mais uma vez, estádio lotado para ver o mais carismático líder da Igreja Católica. Agora, dialogando diretamente com todos, frisando a importância da família bem estruturada para a sociedade.
1980
Reza a lenda que quando Frank Sinatra pisou no palco do Maracanã e observou a multidão de mais de 170 mil pessoas, o maior público de um evento musical do mundo até então, exclamou: "Oh my God"!
Essa foi também a reação de cada fã que se fez presente ao estádio naquele dia. O "Blue Eyes" fez um showzaço, de 75 minutos, com direito até a "Corcovado", de Tom Jobim, ao lado do Cristo Redentor. Mas esse não foi o único momento especial da noite. Pelo contrário.
Em "My Way", por exemplo, Sinatra recebeu um beijo de um fã que conseguiu driblar a segurança e subir no palco - ele viria a tornar-se o folclórico Beijoqueiro, que após essa data, passou a tentar repetir o feito em diversos eventos realizados no Brasil.
E o que falar do que aconteceu em "Strangers In The Night"? Ele se confundiu com a letra da canção na apresentação, porém a plateia o ajudou. Quando ele ficou em silêncio, as mais de 170 mil vozes cantaram em uníssono os versos. Ao fim, encerrou o show com a então inédita "Theme From New York, New York..." e foi aplaudido de pé.
Para se ter uma noção do quanto esse show foi repercutido na época, a Rede Globo fez uma transmissão, chamada "Frank Sinatra Especial", para toda a América do Sul, exceto a Colômbia. Mais do que um grande show musical, o "Sinatra In Rio" foi uma afirmação: o Rio de Janeiro está pronto para receber grandes astros.
Depois dele, abriu-se o mercado para superstars da música se apresentarem na cidade. Especialmente, claro, no Maraca, que ainda receberia, por exemplo, Kiss, Paul McCartney, Tina Turner, Madonna e, claro, o Rock in Rio II, em 1991.